Há 10 anos vimos, com perplexidade, a cruel ingenuidade dos novaiorquinos balbuciando “por que nós?” quando alvejados em seu próprio território. Na homenagem às vítimas de 2001, o presidente norte-americano usa uma passagem bíblica em seu discurso e, em que pese a oposição interna, acrescenta que, em 10 anos, dois milhões de soldados foram enviados para o exterior com a missão de “defender os cidadãos da América e seu modo de vida”.
Essa defesa envolve populações que precisam ser “salvas” de si mesmas e que, coincidentemente, estão instaladas sobre imensas e lucrativas reservas energéticas. O discurso de proteção, democracia, dignidade e liberdade justifica a intervenção. Os nativos e outras milícias protagonizam cenas de ódio iguais às do invasor. Os dias explosivos correm imprevisíveis e a única regularidade é a violência. Será que ter por rotina diária a guerra é menos emblemático do que a visibilidade da destruição das torres americanas?
A violência não tem explicação. É uma insanidade recíproca na qual não se buscam razões: seu único suporte é a desrazão. A desrazão da irresponsabilidade do não importa de onde vem ou quanto vai custar, queremos nosso conforto, a desrazão de crianças servindo ora de bombas ora de escudos.
Se olhamos povos, vemos a soma díspar de seus indivíduos. Apesar da singularidade, seja pela indiferença ou pela comodidade - e mesmo correndo o risco da simples redução -, observamos características comuns a cada uma dessas pessoas, partilhadas em maior ou menor grau. É assim que somos cidadãos de um país ou de componentes de uma etnia. Nesse coletivo, temos duas escolhas: ou concordamos com o que a maioria concorda e usufruímos da totalidade dos resultados tornando-nos individualmente responsáveis por todos, ou registramos com eficácia nossa discordância, seja aprimorando os pensamentos, seja escolhendo melhor as palavras, seja em atitudes que figurem exemplos de honestidade e retidão.
Podemos participar de um tempo melhor, mais compassivo e justo.