Há emoções que não se entende. Aliás, a maior parte delas nasce num lado pouco visitado da nossa consciência e raramente temos presente o material de que são feitas... Sente-se, e pronto.
Anos atrás, vi-me encantada com algumas bisnagas de cores e alguns pincéis. Talento era o que menos importava: a construção da imagem na tela às vezes era como uma berceuse e outras como uma angústia profunda dada a minha inabilidade.
Mesmo assim, sábado após sábado vestia a blusa índigo manchada, pegava a caixa ferramentas onde guardava meu material e subia duas ou três quadras até a escola.
É comum que se inicie por cópias, assim, repetia a figura de uma aquarela de mar revolto batendo contra pedras e ao meio da figura, rochas maiores dividindo a água do céu. Enquanto remava na minha marina, observava outras produções.
Apreensiva com o não progresso no meu trabalho, passava o chimarrão, fazia o chá e distribuía as xícaras fumegantes enquanto observava o desempenho das colegas e me congratulava com tão especial companhia.
Gente talentosa e dedicada. E como eu, mais para ver o que acontecia, só eu mesma. Enfim! Via as cores serem conduzidas pela superfície que ganhava textura e profundidade, e assim produzirem as impressões que adentravam aos olhos.
Quando R. começou um campo de tulipas, que se perdia da vista e entrava no coração, fiquei impressionada com o modo com que segurava o pincel e como, em ações precisas, tecia cada uma das flores. Habilidade e certeza.
Por aqueles dias, V. pintava Frutas. A percepção é progressivamente revelada: ela está na mente, e quem tem a cor vai tirando o branco da tela e compondo a imagem.
É de tocar com as mãos, escolher, tirar da tela e comer. Embora tenha desejado, essas são as bananas que não pintei.