sábado, 12 de novembro de 2011


MAIS UMA VEZ OS 99%

        Estive hoje no Athens Syntagma Square em, evidentemente, Atenas. Após fui à Gehardt-Hauptmann Platz em Hamburgo. Em seguida, para o “acampasampa”. Dali segui para a Antuérpia e dei uma olhada no que acontecia na Groenplatz. Estive também em Paris (La Defense), em Moscou e ainda dei uma passadinha em Oakland. Outro dia eram 168 opções em livestream. Hoje já são 196 canais para se acompanhar, ao vivo, o que acontece pelas praças do mundo todo.

        As redes sociais são efetivas em juntar a experiência estratégica das ocupações e divulgam as atas das reuniões, a planilha recheada de eventos culturais e de sensibilização, de recados e de pedidos de solidariedade. Documentam também as oficinas envolvendo música, esporte e artes, as bibliotecas populares, os murais e manifestações outras. Há alguns dias os “indignados” da Cinelândia perderam a sua cozinha (problema aparentemente já resolvido) e reorganizaram a segurança realocando as barracas e insistindo para que elas não sejam apenas equipamentos vazios e esvaziados pelo desconforto. Os homeless da Cinelândia repartem o espaço mobilizado por seus novos companheiros.

        O occupywallstreet já é o occupyaspraçasmundoafora. Os 99% se multiplicam repetindo em alto e bom som a voz dos discursos existindo ou não mega ou microfones. Você percebe a força das palavras repetidas e ecoadas no coração de cada um, como um poderoso mantra?

        Qual o gatilho do OWS? A intolerância à desigualdade e à ganância do 1% que domina a economia. Na esteira da primavera árabe, se busca a reflexão e a capacitação das pessoas para criarem uma “verdadeira mudança de baixo para cima”, com o uso da não-violência e sem líderes carismáticos a conduzir o rebanho. A maior mudança é o protagonismo plural, não unificado e não imediatista. É a atenção para que cada um busque, no seu entorno primeiro, a justiça das relações econômicas, a democracia que extrapole o limite do voto, a conscientização do seu valor, a oportunidade de usar seus talentos e habilidades, o trabalho a um salário justo e, fundamentalmente, a solidariedade. No dizer de Stigliz (Nobel de Economia): "uma democracia não controlada pelo dinheiro".

        Uma agenda bem interessante...


sábado, 5 de novembro de 2011


Planeta da fome


      Chegamos aos 7 bi de almas viventes no planeta. Estrondosa marca que poderia ser festejada por todos os condôminos, se todos fossem condôminos. Não são.

      Estamos envolvidos - alguns genuinamente outros nem tanto – em resolver questões de como partilhar os recursos. Como bastar a todos com o mínimo? Como, após bastar o mínimo, oferecer opções? Como?

      A pesar de ser espantosa, la miseria humana no ha sido nunca una realidad digna de atención en las sociedades porque la preocupación por la conservación, que da a la producción la apariencia de un fin, se impone sobre el gasto improductivo. Para mantener esta preeminencia, como el poder está ejercido por las clases que gastan, la miseria ha sido excluida de toda actividad social […] dizia Bataille. Isso, ao menos, nos tira o cinismo. E nos conduz ao tempo em que passamos a nos ocupar, por diversos motivos, com os 1 bi de humanos que adormecem com fome.

      Os processos que antecedem a produção de alimentos e prosseguem até a saciedade do indivíduo é tortuoso e cheio de agudezas. Quantas muitas vezes é interrompido por descaminhos. E surpreendentemente, coexiste com práticas generosas: ah, nossa contradição humana...

      Organismos internacionais, nacionais, regionais, locais e pessoas comuns do povo ocupam-se com a questão. Uns em larga escala, com políticas e concretas ações globais, outros com o simples fechar a torneira enquanto escova os dentes, mais alguns separando e exigindo das autoridades o correto destino do lixo.

      Mesmo que ainda nos pese, por muitos anos, a sombra dos famintos, quando tocados, já agimos melhor. Mesmo que esse agir melhor ainda não seja suficiente, estamos no caminho. Vamos acelerar e juntar mais de nós, pois, afinal, ainda tem gente que adormece com fome.