domingo, 23 de outubro de 2011


Como nós

         Que diferença têm, entre si, aqueles que usam os mesmos métodos dos que os antecederam? Se o regime e o déspota deposto representaram a dura oposição e a clara negativa aos direitos civis e à democracia, o que dizer destes que nem bem se instalaram e já desdenham das garantias individuais como seu antecessor?

         Nada de novo. É a prática reiterada e repetitiva do golpe, da tomada de poder e do trucidamento das antigas lideranças... E em algum tempo – mais longo ou mais curto -, a história se repete, mudando alguma coisa na forma, mas o fundo permanece: interesses econômicos de clãs locais ou de clãs estrangeiros.

     
         Em meio a essa retaguarda repetitiva, encontramos mães e pais, filhos e sobrinhos, avôs e avós desejando o seu dia-a-dia de um passo após o outro, mesclando suas generosidades e suas mesquinharias, no rumo desejável à suavização de ódios tão ancestrais. Fartos de tanta contrariedade e tropeço nas suas mais comezinhas intenções, fartos de tanta falta que seus parentes e amigos fazem.

         Pessoas nem tão boas, nem tão más. Só pessoas. Como nós.

domingo, 16 de outubro de 2011


Verdades e mentiras

Mentiras e verdades só se relacionam em uma única via, só haverá mentira se houver algo nomeado de verdade para ser ocultado.

A propósito, a verdade é possível? É um largo questionamento que nos leva a imbricados caminhos aos quais ousamos, por ora, renunciar. Assim, assumindo que se pode falar sobre algo que pode ou não existir, ou pode ou não ser possível, tangenciamos o que já se falou sobre a verdade, e vamos abordá-la pelo viés do desejo e do julgamento.


              http://www.freedigitalphotos.net/images/Ideas_and_Decision_M_g409-Question_Symbol_p16223.html


O desejo é o motor da humanidade. Em si, não é bom nem mau. O desejo de ser bom, compassivo, amoroso, é bom. O desejo de ser mau, egoísta e rancoroso, é mau. Admitindo a redução, constatamos, dessa forma, que o desejo é diferente de seu objeto. E essa diferença deve estar bem clara quando buscamos a verdade, para que ela não expresse, apenas, o nosso desejo.

Na busca da verdade executamos julgamentos que, raras vezes, são diferentes do nosso desejo. Nosso julgamento pressupõe um padrão inicial que confrontamos com o que os sentidos nos noticiam. Esse padrão estabelece uma verdade que, na falta de outra melhor, mais elaborada ou mais verdadeira, serve para espelhar a diferença. Cá entre nós, como humanos, a diferença nem sempre é apreciada... Mas, entre o padrão que criamos e a verdade que opinamos pode haver uma grande distância!

No convívio familiar e social tendemos a utilizar filtros. Há tesouros guardados em nossa intimidade que recusamos compartilhar, há coisas que podem ser ditas e outras são melhores quando não ditas. A decisão de filtrar vai da conveniência. Às vezes a opinião que nos é solicitada é tão contundente que o nosso ouvinte pode se indispor conosco e gerar reação tal que ultrapasse os limites do nosso conforto. Então... mentimos. Mas será mesmo necessário mentir? Pode haver uma maneira amorosa e delicada de dizermos o que precisamos dizer. Pode existir um modo de não evidenciarmos a nossa ansiedade em fazer prevalecer nosso ponto de vista e assim evitamos o atropelamento da autoestima do nosso próximo.

O exame das nossas intenções (desejos) quando formulamos nossos padrões - que são mais saudáveis quando flexíveis - e o exame das nossas intenções quando fazemos nossos julgamentos está na ordem do dia.

Quem sabe figuremos primeiro, legitima e honestamente, o que pretendemos com nosso discurso. Assim, examinar o nosso julgamento e o desejo do resultado da publicação da “nossa” verdade é o que nos diferencia em animais sociáveis ou apenas sociais.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011


TRÊS MULHERES PELA PAZ

Quem de nós tem atenção especial à Libéria? Ou ao Iêmen? Pois é, são de lá as três mulheres que repartirão entre si o Prêmio Nobel desse ano.

O presidente do comitê destaca que elas foram “recompensadas por sua luta não violenta pela segurança das mulheres e pelos seus direitos a participar dos processos de paz”.

Tawakkul Karman, mãe, iemenita, jornalista e pacifista lamenta seu país caminhar a passos largos para uma guerra civil: “sou uma cidadã do mundo, a Terra é minha pátria e a humanidade é minha nação”. Ellen Johnson-Sirleaf, mãe, liberiana, economista, é presidenta de um país em franca reconstrução após 14 anos de guerra civil. Leymah Gbowee, mãe, operária social, é militante pacifista e organizou as mulheres liberianas com o que estava ao seu alcance: reuniões, preces nas praças e greve de lençóis: “se qualquer mudança tivesse que acontecer na sociedade, isso teria que ser feito pelas mães”.

Três mulheres pela paz...

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Nós somos os 99%

 
O que significa ser os 99%? O primeiro documento oficial que divulga o movimento e estabelece sua convicção e sua estratégia (pelo menos por agora) está publicado e estão sendo preparados mais três: “uma declaração de demandas do movimento; os princípios de solidariedade e a documentação de como formar o seu próprio Grupo de Ocupação de Democracia Direta”.

 
20111004-occupy-wall-street
http://tatianeps.net/2011/10/occupywallstreet-primeiro-comunicado-oficial-do-ocupar-wall-street/


São inconformados não-passivos. Eles perderam as suas casas em financiamentos diabólicos, colaram grau e não conseguem empregos, foram demitidos e excluídos da proteção de saúde, veem-se obrigados a optar entre a alimentação e o aluguel...

Acusam o 1% restante (que de resto não têm nada) de “perpetuarem a desigualdade e a discriminação” e de serem favorecidos pelas benesses da política mal conduzida e das finanças concentradoras.

Já se ouvem ecos em outras praças centrais: São Francisco, Chicago, Los Angeles, Seattle, Albuquerque, Filadélfia e Boston. O já chamado Outono Americano tem semelhanças e dessemelhanças com a Primavera Árabe. Quem se arrisca a fazer a lista?

Por enquanto, melhor acompanhar atentamente...