domingo, 11 de dezembro de 2011


BILHETE NA MOCHILA


      A relação de aprender na escola tem, pelo menos, três atores e um tema. Tem pais, alunos, professores e conteúdo. Simplificando: pais fornecem alunos para a escola, onde o professor tem a função de aprová-los em determinados conteúdos.

      A divisão clássica entre instrução e educação há muito vem se modificando e chega aos nossos dias com os limites bem confusos. Ainda assim, os educadores têm o genuíno desejo de receber alunos minimamente educados para então instruí-los.

      E tudo vai bem (será?) até o momento em que, na mochila do educando, aparece um bilhete pedindo atenção a comportamento não desejável ou atenção à nota que não satisfaz a média de aprovação. E a pergunta que se põe é “quem errou?” ou “de quem é a culpa?”

Nas escolas particulares, os alunos são “clientes”. Os pais contratam as boas notas, os elogios e a aprovação. Vivem, difundem e reproduzem seu ideal de vencedores (afinal, conseguem pagar escolas particulares para seus filhos) e impõem esse ideal de infalibilidade como único caminho para o sucesso. A reação é furiosa - e assistida pela criança que legitima para si também o desrespeito ao entregador da mercadoria - e alveja a incompetência da escola de cumprir o seu papel contratual.

      Já nas escolas públicas, os alunos são “assistidos” e a expectativa pode ser a merenda, o cuidado durante as horas de trabalho e a leniência de se encontrar jovens em séries avançadas apenas juntando sílabas. O bilhete na mochila reforça a incompetência do aluno em aprender (e nisso difere da escola particular) e de todo o sistema envolvendo, inclusive, o conteúdo acusado de elitista (alguém aqui já usou báskara fora do contexto acadêmico?) e descolado da realidade vivida ou sonhada.

      Pressionados em ambas as situações, seja para atingir metas de excelência e assim agregar novos investimentos e expandir a clientela, seja em atingir os índices mínimos estabelecidos na relação estatal, os professores relutam entre reagir com idealismo ou prosseguir com o simulacro: a escola finge que é o espaço organizado para a instrução, o professor finge que ensina, o aluno finge que aprende e os pais fingem que educam. E todos são “aprovados”.

      Ron Clark (http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/pais-e-professores), autor do segundo artigo mais compartilhado no Facebook, propõe o respeito e a proximidade entre pais, professores e escola. A conquista a ser buscada é uma relação harmônica e um ambiente de cooperação onde se discuta e se atue com honestidade e comprometimento.

       Quem sabe não se precise assistir a filmes (Ron Clark story: 2005; To sir with love: 1967; Dead poets society:1989, por exemplo) nem escrever ou receber o bilhete na mochila para fazer a escolha do que se quer. Ou não?


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